jeudi 20 novembre 2014

enfermagem no QC, quem é quem na fila do pao .... capitulo 1 (post em português)

Zapeando na net, vi o video da Mandy (aqui =  blog da Mandy ) e numa parte ela fala sobre a enfermagem e cita um exemplo do *enfermeiro clinico*. Pela explicaçao (aos 17 minutos, para quem achar o video longo rs) parece que ser *enfermeiro clinico* é uma especializaçao. O que nao é bem o caso.

Entao, o objetivo desse post é elucidar meus 2 leitores (kkkkkk) sobre a hierarquia e as diferentes profissoes dentro da grande area da enfermagem. Preparados ?


source https://www.youtube.com/watch?v=NRaQSS4XnzU


Digo e repito, **enfermagem aqui no Québec é basicamente assistencial**. Meus posts insistem nessa tecla, pois muitos podem ficar decepcionados com as funçoes, achando que enfermeiro sera automaticamente (ou muito rapidamente, como acontecia no Brasil na minha época) gestor ou coordenador de unidade ... Nao é bem assim!

Dentro da assistência, ha diferentes niveis e diferentes profissionais envolvidos. E vamos tentar desenrolar esse novelo .... 


1 = PAB (préposé aux bénéficiaires)

É uma especie de *atendente de enfermagem*, misturado com *auxiliar de enfermagem* depois da lei 90. A Lei 90 surgiu no começo dos anos 2000 e abriu o leque de opçoes para os profissionais da area da saude. Ela autoriza que PAB e IA (infirmier auxiliaire) mediante formaçao especifica executem tarefas antes exclusivas aos enfermeiros. 
O que esta incluido na lista da lei 90 ? Você encontra aqui = loi 90 (site da OIIQ)

Entao, o que faz um PAB ? Grosso modo, ele se ocupa de cuidados de base : higiene, ajuda na hora da alimentaçao, ajuda nos transportes, supervisao da segurança e condiçoes de integridade do paciente e garante uma assistencia fisica. Essa é a parte mais parecida com a dos antigos *atendentes*. A Oniraci colocou um post super legal sobre sua rotina como PAB, ela que é enfermeira e esta fazendo o AEC de equivalência ( blog da Oniraci ).

Com a lei 90, e em condiçoes bem especificas, o PAB pode administrar medicamentos (comprimidos, cremes, aplicaçao retal e podem até administrar insulina - a unica *injeçao* autorizada para PAB). Para que um PAB possa executar essas tarefas, ele precisa ser formado por um enfermeiro autorizado, o processo é todo regulamentado e a funçao é *delegada* ao PAB em questao. Ha enfermeiros que trabalham apenas nos processos de transiçao de NP (nao profissionais) em CHSLD (centre d'hébergement et de soins de longue durée). Nao vou entrar no mérito se a déprofessionalisation é benéfica ou nao, mas é uma realidade que veio para ficar (reportagem sobre o tema , aqui = déprofessionalisation).

PAB é um curso de nivel pos-secundario, ou seja, a formaçao leva menos de 1 ano. Meu primeiro trabalho foi como PAB, na época nao exigiam de enfermeiras estrangeiras o curso de PAB. Hoje os residenciais privados ainda podem aceitar sem o curso, mas em geral pedirao pelo menos o RCR e o PDSB. Ha em Montréal um curso  de PAB especifico para enfermeiros estrangeiros (o processo com a OIIQ pode ser super demorado, e com o curso o enfermeiro estrangeiro pode trabalhar no setor publico, que paga melhor do que o privé! No privé o salario é de uns 12$ por hora, e no publico pode chegar até 18$, 20$ por hora). O mercado absorve super bem esses profissionais.

Os PAB sao entao a BASE da categoria de profissionais dos *soins*. Eles nao possuem ordem profissional, nao sao classificados como da *area* da enfermagem (sim, isso é bem confuso mesmo!)

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2 - IA (Infirmier auxiliaire)

Esses profissionais se assemelham mais com os técnicos de enfermagem brasileiro (tanto que técnicos de enfermagem conseguem validaçao como IA, mediante um processo mais simples  - mas também chato - de equivalência de diploma, que pode ser consultado aqui = equivalência OIIAQ)

Os IA sao uma formaçao pos-secundaria especializada, com 1800h de estudos, o que da mais ou menos 18 meses. IA recebem entao uma formaçao mais aprofundada do que os PAB. Eles sao aptos a executarem procedimentos relacionados à administraçao de medicamentos, curativos, punçoes venosas e mesmo instalaçao de medicamentos. IA atuam em quase todas as areas do ambiente hospitalar e comunitario. A lei 90 abriu muitas portas (e janelas!) para os IA, eles assumem cada vez mais responsabilidades na hierarquia dos *soins* (o que a FIQ diz = IA pela FIQ ). O salario maximo de um IA é de 26,50$ por hora.

Um fato interessante, enfermeiros estrangeiros podem pedir equivalência como IA. É uma opçao para aqueles que nao conseguiram a aprovaçao no exame da OIIQ mesmo apos as 3 tentativas ou para aqueles que querem simplesmente um acesso mais rapido ao mercado de trabalho, e nao se importam com essa *queda* no nivel profissional. O salario é interessante e com certeza ha muitas atribuiçoes bacanas para os IA!

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3 - Infirmier technicien (DEC) e infirmier clinicien (BAC)

Aqui é que começa a confusao! Entre um PAB, um IA e um enfermeiro, na pratica, é até facil saber **quem é quem**. Mas quando o assunto é **enfermeiro** ou **enfermeiro clinico**, o negocio complica! Complica pois enfermagem, aqui no QC, permite o acesso via 2 sistemas = o CEGEP e a universidade. O CEGEP da o titulo de *infirmier*, é uma formaçao de 3 anos. Seria + ou - um **tecnologo**, um curso superior de curta duraçao. A faculdade, por sua vez, da o titulo de *infirmier clinicien*, que vem com um bacharelado. 

E no dia-a-dia, o que fazem  de diferente o technicien e o clinicien ??

O enfermeiro (seja ele DEC ou BAC, aqui a lei coloca os 2 no mesmo balaio) possui suas atribuiçoes especificas definidas pela lei (isso ja rendeu post no blog =  o que faz o enfermeiro no QC ). A OIIQ deseja que o acesso à profissao seja feito exclusivamente via o BAC, o que foi rejeitado recentemente pelo governo (e super rejeitado pelos proprios enfermeiros!).

Na pratica, o que vemos é que alguns setores irao priorizar (ou tentam priorizar) enfermeiros com BAC, ou seja, os cliniciens, para algumas funçoes. O setor comunitario é um deles, existem infirmiers techniciens que trabalham em CLSC, mas em geral sao os infirmiers cliniciens que assumem as funçoes nesse setor. Mesma coisa (embora nao seja regra) para UTI, urgência e setores hiper-especificos. Mas nao ha cliniciens em quantidade suficiente, entao o mercado nao tem outra opçcao senao contratar techniciens. E com isso, o *valeur ajouté* do BAC (com a carga horaria de ciências sociais, politica e filosofia de enfermagem) fica em segundo plano.

A formaçao DEC é uma formaçao **terrain**, ela prepara o futuro enfermeiro para botar a mao na massa, literalmente. No BAC, a parte do **pensar enfermagem** é favorecida, é a parte que desenvolve o **savoir infirmier**. O mercado de trabalho ainda nao consegue ver claramente essa diferença.

Como assim, o mercado nao vê a diferença ? Na humilde opiniao dessa enfermeira que vos escreve, e sem fundamento cientifico algum além da experiência e do achismo, um dos problemas esta no fato dessas 2 categorias nao terem funçoes especificas, como acontece com PAB e IA, por exemplo. O clinicien estudou mais tempo do que o technicien, mas na pratica podera acabar fazendo exatamente as mesmas funçoes (numa unidade de clinica médica, por exemplo!). Para entender, é preciso voltar um pouco e explicar o confuso sistema educacional em enfermagem no QC : quando o estudante esta no secundario e vai para o CEGEP, ao optar pelo curso na area de enfermagem ele pode seguir diferentes caminhos = o DEC (3 anos) e sair como enfermeiro. O DEC-BAC (3 anos no CEGEP e 2 anos na faculdade e sair com os 2 diplomas) ou o DEC em sciences de la nature e depois aplicar para o BAC na faculdade (2 anos no CEGEP e 3 anos na faculdade). 

O caminho DEC-BAC é super interessante, na minha opiniao. Interessante pois expoe desde cedo o estudante à pratica diaria da enfermagem, **terrain**, e consolida a parte filosofica e teorica gradualmente no BAC. Mas ha quem defenda o chemin 1 (sciences de la nature + BAC) como o unico e mais adequado possivel, o meio universitario tem um certo *desprezo* pelo pessoal do DEC (ah, a academia e suas frilulas).

Para ser chefe de unidade hospitalar, nao é obrigatorio (embora seja fortemente recomendado) o BAC. Para ser ASI (assistante do supervisor imediato) também nao. Entao muitos enfermeiros simplesmente dizem **para que eu irei fazer 2 anos de BAC, se no fim, sera tudo a mesma coisa?**. Oras, o BAC abre a porta filosofica da profissao, permite ao enfermeiro pensar criticamente, a estudar o sistema de saude e a se preparar para ser um agente de mudança. Mas parece que isso nao é o mais importante .... 

E na hora do vamos ver, no fim da quinzena, como fica ?? O salario varia pouco entre enfermeiros e enfermeiros clinicos. O ultimo *échelon salarial* de enfermeiro é de 33,86$ por hora para enfermeiros e 41,26$ para enfermeiros clinicos. Alguns acham que nao vale a pena **perder** 2 à 3 anos de faculdade para completar o BAC e ganhar menos de 10$ por hora a mais por isso. A se pensar ....

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Caso o enfermeiro clinico decida continuar os estudos, ele pode aplicar para o mestrado e de la, ir para o doutorado e afins acadêmicos. O BAC, nesse caso, é pre-requisito obrigatorio. O mestrado em enfermagem oferece varias ramificaçoes, mas isso fica pro capitulo 2 ....

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À la prochaine!



17 commentaires:

  1. Ola Gabi, eu me referia ao enfermeiro com mestrado/doutorado mesmo. Que clinica e pode até prescrever: http://npcanada.ca/portal/

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    1. esse sera o proximo capitulo ;-) Eu estou nessa leva, nao é clinicienne, é praticienne (o jogo de letrinhas) ....

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  2. Olá Gabriela. Também sou enfermeira, trabalho num hospital em Campinas e estou tentando validar meu diploma pela OIIQ, enviei minha documentação em janeiro /2014. Estou adorando suas postagens, dá pra entender melhor sobre o sistema de saúde Canadense, sobre a profissão de enfermagem e tambem dá pra tirar alguns exemplos e quem sabe implantar nos serviços de saúde públicos aqui do Brasil como por exemplo os sites dos hospitais de Montreal que disponibilizam as informações sobre o numero de pacientes aguardando atendimento, internações etc, achei ótimo. Obrigada por compartilhar um pouco da sua experiência.

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    1. a ideia é essa ;-) Se tiver facebook, pode ir no grupo *enfermeiros e enfermeiras*, ha muitos que ainda estao no Br tb

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  3. Boa noite, sempre leio seus textos. Acho ótimo para esclarecer como acontece aí. Sou enfermeira e aguardando o CSQ. Quando chegamos aí com diploma, faremos o curso de atualização no cegep, depois a prova da OIIQ, depois disso o nosso título é BAC? Só pra ver se entendi. Obrigada.

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    1. Essa é uma especificidade que não coloquei aqui, mas para diplomas estrangeiros a OIIw dirá apenas que somos "enfermeiras". Será o mercado de trabalho que irá ou não aceitar seu BAC e seus anos de experiência. No meu caso, desde meu primeiro emprego como CEPI eu recebo como BAC e segundo meus anos de experiência, mas conheço enfermeiras que penaram com seus empregadores para terem o BAC reconhecido. Isso é discutido na hora da entrevista de emprego ;-)

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  4. Gabriela, vou te fazer outra pergunta. Estou preenchendo os documentos da OIIQ, sou funcionária pública municipal há 6 anos e para assinatura do empregador pode ser a minha coordenadora da saúde da família? Obrigada. Um abraço.

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    1. Raquel, quando trabalhei em saude da familia quem teve que assinar meus papeis foi o chefe de departamento do RH que eh o reresentante legal do seu empregador. Teoricamente a sua coordenadora eh so mais uma funcionaria como vc. Abracos.

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  5. Qual o tempo desse curso em Montreal de PAB para enfermeiros estrangeiros? Vc tem o site? Desculpas por fazer tantas perguntas. Obrigada

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    1. é na École des métiers des Faubourgs-de-Montréal , nao sei o tempo, mas com certeza é inferior aos 9 meses do curso standard. Vc nao encontrara informaçoes no site pois é um programa especifico via Emploi-Québec.

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  6. Ufa! Esclarecida, obrigada! :)

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  7. Super legal seu blog. Estou AC tudo por aqui. Obrigada.

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  8. Olá, amei seu blog!!! Procurei muitas vezes por algum blog assim, mas estava difícil!! Eu meu marido e nosso filho(bebê) queremos migrar em 2017. Ele é tec em enfermagem, e nossa dúvida é se ele consegue validar o título ai, pq nenhum curso téc daqui do Brasil tem as 1800 horas(somando aux e téc). E com o que ele pode trabalhar, e se ele consegue fazer algum curso e trabalhar!! Obrigada pela ajuda!!

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