lundi 8 septembre 2014

enfermagem no Québec (post em português) - capitulo 4

... Ah, ser enfermeiro em région, que delicia!
Mesmo com o baque fisiologico de fazer 1 mês de dia e 1 mês de noite, eu estava curtindo e aprendendo. Mas eu era a novata do pedaço. E novato cobre férias, né?

E assim, la fui eu cobrir as férias de uma enfermeira no CHSLD do micro-hospital (veja os capítulos precedentes para conhecer esse parcours!)

capitulo 1
capitulo 2
capitulo 3

O CHSLD ocupava o segundo andar do prédio, onde o térreo era dividido entre o Centro Hospitalar (a unidade de hospitalização com seus 6 leitos e a urgência) e o CLSC. Eram mais de 20 pacientes no CHSLD e 4 PAB em permanência, das 7 às 19. Os enfermeiros so trabalhavam durante o dia, e a escala deles era diferente da escala do hospital. Eram duas enfermeiras no CHSLD, e eu cobri férias de uma delas por 4 semanas.

Trabalhar com uma clientela 100% geriatrica, aquela seria minha primeira experiência. Tudo é aprendizado, então fui sem medo.
As rotinas não eram muito diferentes daquelas da unidade de hospitalização, mas com muito mais medicamentos a administrar (todos PO) e menos tempo para ajudar os PAB = e consequentemente, menos tempo para conhecer os pacientes (os enfermeiros da unidade conheciam os pacientes de longa data, mas eu estava apenas para cobrir férias, então não tive tempo suficiente para conhecê-los a fundo. É como um enfermeiro de equipe volante, não da tempo de criar os vínculos).

A geriatria tem características bem especificas, e  eu me vi diante de desafios como decidir quando colocar um método de contenção, ou quando suspeitar que a confusão é na verdade uma infecção urinaria, quando o inchaço abdominal é na verdade um sangramento oculto ou uma constipação ... a enfermagem em geriatria é cheia de nuances e eu tive 4 semanas de aprendizado intenso. Muitos idosos desenvolvem feridas e ulceras de pressão, mesmo sendo mobilizados constantemente. Se metade do meu plantão era avaliar os pacientes e dar as medicações, a outra metade era dedicada aos curativos e eventualmente procedimentos como sondagens, fleets e cia. Era muito trabalho para apenas 1 enfermeira! Eu havia comentado isso com o enfermeiro-chefe, mas nesse aspecto não dividíamos a mesma opinião (segundo a OIIQ, que se apoia nas recomendações do American Nurses Association e do Royal College of Nursing, o ratio deveria ser 1:10 para garantir a qualidade dos cuidados e dos serviços, e eu sou 100% de acordo! 1:20 é do puro faz-faz-faz!) = ha todo um debate sobre a carência de enfermeiros em CHSLD, esse local não atrai tanto a atenção dos novos enfermeiros e nem mesmo do governo, que acha que diminuir o numero de enfermeiras é uma *resposta natural* às necessidades da clientela, vejam so (pausa para um momento **revolta com o sistema**)

(extrato de uma  reportagem sobre CHSLD )
«Si on diminue les infirmières, c'est pour répondre aux besoins des gens. Les besoins ne sont plus en soins infirmiers en tant que tels. Le besoin, c'est de lever les patients, de laver les patients et d'apporter une aide à l'autonomie de la vie quotidienne. Et, pour ça, il faut plus de préposés, moins d'infirmières.» - Le ministre de la Santé et des Services sociaux, Réjean Hébert, questionné le 26 septembre dernier au sujet de la coupe de 30 postes d'infirmières à l'Institut universitaire de gériatrie de Montréal.
«Les préposés sont précieux et ont un rôle super important dans l'assistance aux malades. Mais on ne peut pas substituer l'un pour l'autre. Ça n'a pas de bon sens! Les infirmières font des évaluations précises pour donner des directives de soins aux préposés [...] pour que le résidant soit bien traité, pour éviter l'utilisation des contentions. Si personne n'est capable d'évaluer, on ne prend pas les bonnes décisions de soins. Ç'a des conséquences.» - Lucie Tremblay, présidente de l'OIIQ. Elle souligne que les suppressions de postes augmentent depuis quelques mois.
source http://tvanouvelles.ca/archives/lcn/infos/national/media/2012/02/20120202-190709-g.jpg


Eu compartilho da visão da OIIQ, acho que a clientela geriatrica merece ser avaliada por profissionais capacitados e habilitados. Pela lei, o PAB não tem esse direito. Eles são os olhos, ouvidos e mãos dos enfermeiros, que acabam confiando na informação dada pelos PAB para tomarem suas decisoes. Meu tempo para analisar uma condição clinica era o menor possível, e eu me questionava constantemente se estava tomando a melhor decisão.

No CHSLD, eu estava para cobrir férias, estava fazendo algo novo e queria fazer bem feito. Além da dificuldade em administrar meu tempo entre todos os pacientes, eu sofria com a antecipação de uma queda de paciente. É muito frustrante num CHSLD, quando um paciente cai! Uma queda é uma dor de cabeça na certa! Nao falo apenas dos 1001 formularios, observação, comunicação ao médico, investigação .... quando um dos pacientes caia, eu queria cair junto, de raiva! A enfermagem se culpa enormemente quando um paciente cai ou quando desenvolve uma ferida de pressão, mas aprendi e aceitei que o paciente também tem sua *parcela* nessa conta. Muitos idosos são confusos e acabam perdendo o equilibrio por besteira. E la vão para o chão. Fraturar um quadril aos 90 anos não é nada legal, nesses casos chamávamos a ambulância e encaminhávamos para um dos hospitais de apoio. No meu periodo de cobertura de férias no CHSLD, tive 2 quedas. Nenhuma precisou ser encaminhada ao hospital de suporte, não fraturaram nada, mas é uma trabalheira e uma fonte de estresse!!

Entender que o CHSLD é o milieu de vie daquelas pessoas, e não apenas uma unidade hospitalar, foi fundamental. Não é um local temporario, os quartos sao enfeitados, ha flores e bibelôs, ursinhos de pelúcia e fotos. Transformar aqueles quartos impessoais em algo acolhedor é um grande desafio. A equipe de PAB era fantastica, o carinho com os idosos era real e eles se esforçavam ao máximo para transformar o local numa verdadeira *familia*, com direito ao barbecue na varanda nos dias de verão, musica no meio da tarde e mesmo zooterapia, feita de forma *caseira*. E avaliar as necessidades desses senhores e senhoras em fim de vida, que desafio nursing gigante! Lidar com demências e com perdas cognitivas, mesmo com sequelas de AVC incluindo aquelas do lobo frontal que deixam a pessoa **desinibida** ... aprendi pacas! Geriatria é uma area que tenho e terei muito carinho.

Minhas quatro semanas passaram voando, e como ja estava cobrindo férias mesmo, depois dessa experiência e como eu era a unica infirmière clinicienne atuando no lado hospitalar do CSSS, fui convidada a cobrir uma licença maternidade no CLSC, a enfermeira de perinatologia e cardio estava gravida de seu terceiro filho (la eles eram bem rígidos = enfermeiros cliniciens atuam no CLSC e na urgência e enfermeiros techniciens atuam no hospital e no CHSLD).

E foi no CLSC da micro-cidade que eu descobri minha area preferida como clinicienne, a area de EFJ - enfance famille jeunesse!
Em perinatologia tive direito a formação sobre o PIQ, o protocolo de imunização do Québec, que trata das vacinas. Tive direito a uma formação sobre os cuidados do desenvolvimento do recém nascido e sobre o periodo pos parto. ADORAVA! Minha agenda era muito tranquila, tinha 3 ou 4 bebês ou crianças a serem vacinados no dia. Quando um bebê nascia (em North Bay, ja que em Témis não tínhamos nem maternidade e nem sage-femme) eu recebia o aviso de nascimento e oferecia a visita domiciliar (que vou detalhar um pouco mais tarde, no proximo capitulo). Além de acompanhar os recém nascidos e recém mamães e vacinar os pequenos, eu fazia pelo menos 1 avaliação de desenvolvimento de crianças de 3 anos por semana (cada avaliação Denver levava 90 minutos, era um trabalho super minucioso, ja que no micro-hospital não possuíamos educadoras especializadas). Detectar problemas de amamentação, de linguagem, de fala, de comportamento, de violência familiar ... a area de EFJ é fascinante. 

Na parte de cardio, seguia o programa de reabilitação cardiaca da Sociedade de Cardiologia do Québec, de 6 semanas pos IAM. Eram encontros individuais e cada semana discutíamos um tema. Tinha dois pacientes nesse programa. Participava ainda 1x por quinzena do clube de marcha, que era feito 2x por semana no Centro esportivo local (essa tarefa era interessante, eu dividia com a nutricionista e com as enfermeiras de diabetes e pneumo: ao mesmo tempo que coordenava o clube de marcha, podia validar conhecimentos e fazer mini-avaliações dos participantes, na grande maioria idosos). O volet cardio compreendia ainda os casos de INR, para os pacientes que recebiam o Coumadin (também recebi formação para tal!). O mix de bebês e cardio era interessante. Em geral os dias eram divididos meio-a-meio: a parte da manha, dedicada aos bebês, crianças e puérperas e a parte da tarde, aos acompanhamentos de cardio e suivi de INR. Funcionava muito bem! 

Pela primeira vez, como enfermeira no QC, tinha um bureau para chamar de *meu*, horarios específicos com cada cliente (30 à 90 minutos) e nada de rush, nada da adrenalina da urgência, nem do bloco operatorio. Enfim, estava em paz e havia encontrado meu caminho profissional! Eu conseguia associar aquele mix de pratica que inclui procedimentos (vacinas, avaliação de recém nascido e puérpera, além dos protocolos de cardio), educação (amamentação, puerpéreo e cardio) e prevenção (vacinação e depistagem de problemas de desenvolvimento, clube de marcha ...). Para mim, um mix perfeito, era a consagração do projeto *enfermagem no Québec*, estava muito feliz e super satisfeita!

Como eu sou clinicienne, na época, por iniciativa e por demanda do infirmier-chef, eu participava ativamente de projetos de melhoria encaminhados no CSSS, como a implantação do modelo McGill, a alteração nos formularios de notas de dossiê e alguns pontos em educação continuada. Em EFJ eu estava apenas cobrindo licença maternidade, então a proposta do CSSS era de, uma vez encerrada a licença, de me fixar como enfermeira escolar, de infecção hospitalar e continuar com os projetos de melhoria (meio periodo em cada atividade, ja que eram funções exercidas por enfermeiras em pré-aposentadoria que trabalhavam apenas 2 dias por semana, eu asssumiria as 2 funções em tempo integral).

Mas, marido não estava empregado e mesmo tendo um salario adequado, voltamos para Montréal para que ele pudesse conseguir um job. E em Montréal, consegui o quase impossível (segundo a lenda): um emprego como clinicienne em EFJ, num CLSC! E foi la que conheci um pouco mais sobre a profissão IPS (o barco onde me aventuro até hoje!)

Vamos para o capitulo 5 dessa novelinha?


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