samedi 5 avril 2014

bate-assopra-bate (post em português)

Ontem encontrei a supervisora geral do estagio.

Ela quis saber o porquê de meu rendimento ter dado uma caida nas duas ultimas semanas, levantou meus pontos negativos, tentou validar um pouco minha *santé mentale* e no fim disse que eles estao la para me ajudar mas que irao mudar um pouco o foco, estarao mais exigentes e presentes.

Ah, esse estilo quebeca de ser **bate-assopra-bate** me irrita! Eu tive 12 (DOZE!!!) otimas semanas de estagio, com comentarios excelentes, com retroaçoes super positivas e com bons momentos. Dai, 2 semanas *ruins* (por N razoes) colocam tudo a perder. Falei para ela, é como se todos meus bons momentos tivessem simplesmente sido ignorados e eu estivesse no olho do furacao. Ela tentou negar, disse que os bons momentos estarao registrados no dossiê, etc. et tal. Nao sei, acho que aqui eles minimizam aquilo que a gente faz de bom e maximizam aquilo que a gente faz de *nao tao bom assim*.

Coloquei meu estagio à risco com essas 2 semanas ruins? Muito provavelmente. Estarei sendo vigiada de perto, revalidada e requestionada. Ja sei o que me espera, perdi a confiança que estava sendo criada desde janeiro. E eu trabalhei bem duro para isso!

Ontem encontrei minhas colegas de classe, e TODAS passaram por momentos mais dificeis, TODAS tiveram *erros* em seus diagnosticos e em suas intervençoes, mas quem é chamada para falar com a supervisora? Euzinha. Seria o famoso preconceito contra o imigrante agindo de maneira disfarçada ? ESPERO QUE NAO! Sempre gritei pelos 4 cantos que eu nunca havia sido vitima de preconceito. O fato é que a percepçao das pessoas na cidade de Québec é diferente daquela de Montréal e mesmo em Témiscaming. Na cidade grande e na cidade pequena eu nunca fui vista como *a imigrante*, mas aqui desde o começo do curso sou identificada como *la brésilienne*. Isso nao me incomodava, mas quando o supervisor de estagio direto começa a fazer pequenas observaçoes sobre a maneira como eu digo as coisas .. ah, amigo, isso acaba me desestabilizando....
por exemplo, numa entrevista com um  avô e seu netinho, perguntei se o garotinho de 1 ano *jouait au coucou*, e minha supervisora disse que eu deveria ter usado a expressao *faire coucou* ... Tentei achar no meu Multidictonnaire de la langue française se ha uma clara diferença entre os 2 termos, nao achei. O que achei na net me diz que *jouer à coucou* é aceito (achei em sites franceses). Parece que em Québec dizem *jouer à faire coucou*. Essas pequenas observaçoes acabam minando a moral, nao é ? 

coucou
coucou 2


O que achei no site do Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales confirma minha posiçao, a gente pode muito bem dizer *jouer à coucou* ou *faire coucou* ....
 (CNRTL = Créé en 2005 par le CNRS, le CNRTL fédère au sein d’un portail unique, un ensemble de ressources linguistiques informatisées et d’outils de traitement de la langue.
Le CNRTL intègre le recensement, la documentation (métadonnées), la normalisation, l’archivage, l’enrichissement et la diffusion des ressources.
La pérennité du service et des données est garantie par l’adossement à l’UMR ATILF (CNRS – Nancy Université), le soutien du CNRS ainsi que l’intégration dans le projet d’infrastructure européenne CLARIN) 


2. Coucou! Cri dont se servent les enfants qui jouent à la cachette pour avertir celui qui est au but qu'ils sont cachés et que la recherche peut commencer. Crier coucou!, faire coucou, jouer à coucou! :


Outro *causo*, uma paciente estava com torcicolo de longa data e eu quesionei se ela tinha uma *position vicieuse* ... Outro questionamento da supervisora dizendo que havia escolhido um termo inadequado ...
E la vou eu validar se o termo existe ou nao, voilà, ele existe!! Posso ter usado num contexto errado, mas ele existe!
Do Dictionnaire médical de l'Académie de Médecine, version 2013 DMAM

position vicieuse l.f.
Position anormale qu’a prise un membre ou plusieurs articulations, du fait d’une anomalie durable du squelette susjacent ou d’une affection neurologique de longue durée.
Ex. les rétractions définitives du membre supérieur ou du membre inférieur après poliomyélite ou après paralysie spastique

O que acontece é que no QC, o adjetivo *vicieux* é usado apenas no contexto de ter tendências perversas, ser libertino, depravado (o Multi confirma isso, ele nem abre a possibilidade de utilizaçao desta palavra num contexto médico). OBVIO que eu nao estava falando de libertinagem no caso do torcicolo, mas isso me deixou um pouco down, é como se depois de 7 anos aqui começam a questionar minha capacidade de comunicaçao!
Para informaçao, nos 2 casos citados acima, os pacientes foram capazes de identificar o que eu queria dizer!

Sinto muito, eu nao falo québécois, eu falo francês.

source http://www.petitpetitgamin.com/wp-content/uploads/2014/02/Traduction-Quebecois-Francais-640x541.jpg


Seriam essas pequenas manifestaçoes sinais de preconceito? Ouso esperar que nao. Eu gosto bastante da minha supervisora, gosto muito do meu ambiente de estagio e estou aprendendo como nunca. 
Mas o fato de nao valorizarem aquilo que a gente faz de bom, de colocarem todo o peso nos maus momentos e de porem em xeque toda minha preparaçao, minha bagagem e competência clinica sao fatores de estresse desnecessarios. Eu estava tao feliz e tao bem ... Sera que eles gostam disso? Do sofrimento e da agonia ???

Que venham os proximos 3 meses, sera um desafio herculeo, sinto que colocaram a barreira bem alta. Ja me muni, ja tenho um bom plano de açao e ja elaborei algumas estratégias, inclusive com os médicos supervisores (tenho 10, lembram?).

Outro exemplo, um dos meus problemas era o toque vaginal em fim de gravidez. Oras bolas, ontem fiquei sabendo que eu sou a UNICA do grupo que faz esse procedimento, ja que pela lei as IPS so devem fazer o acompanhamento de gravidez até 32 semanas! Questionei a supervisora geral e ela me disse que isso é um erro, que todas as estagiarias deveriam fazer toques vaginais em fim de gravidez, e mesmo se nao faz parte da nossa competência profissional devemos aproveitar o estagio para praticar. Parece que ela ira transmitir a mensagem para que minhac colegas de grupo comecem a praticar esta técnica também ... enquanto isso, o que eu e a médica negociamos no meu local de estagio é que ela fara o TV primeiro, nao me dira nada e eu farei em seguida, validando sua observaçao. Foi resolvido como um verdadeiro processo de aprendizado, eu nao posso *advinhar* algo se nunca fiz, nao é? Aceitar as limitaçoes é fundamental, eu aceitei numa ba e achei a sugestao dela excelente. 

Outro aspecto, eu faço as vacinaçoes de bebês, e somente uma outra colega talmbém o faz. É duro quando ha 2 pesos e 2 medidas, nao é ? Os locais de estagio oferecem exposiçoes diferentes e exigências diferentes. Ha colegas que estao fazendo 6, 7 pacientes nos dias de SRDV (sans rendez-vous) e eu faço 4, ja que tenho uma agenda especifica para mim (elas pegam os pacientes da lista geral). No meu dia de estagio na urgência, fiz 8, o que para mim foi um **wow!!!**, mas que nao impressionou em nada a médica que me acompanhava no dia ...
Da para ter um pouco mais de coesao e de coerência, SVP??

Segundo o speech dsa professoras, mesmo com tantas divergências entre os locais de estagio, todas sairemos com uma boa base e preparadas para o exame de certificaçao. 

Segunda-feira terei a retroaçao *oficial* dessa avaliaçao catastrofica. Que venha o desafio, vou pra luta. 
E, se nao der e acabar reprovando ... bem, dai é encarar uma vida temporaria como clinicienne e voltar para Québec para finalizar 3 meses de estagio em 2015 (sim, o estagio é aberto so 1 vez por ano, na sessao de inverno ... legal, né?) **NOT!!**)





10 commentaires:

  1. Olá Gabi!
    Acredito que o que vc esta passando não seria bem preconceito, dá mais o que entender que a supervisora está colocando em xeque seus conhecimentos pra ver até onde vc vai (já tendo provado dar conta quando fez TV no final da gestação sendo que nem seria atribuição de estagiária). A gente sabe que existem pessoas assim, que querem testar nossa capacidade de fazer algo. Por vc ser brasileira? talvez, isso não vai dar pra saber e não adianta tentar descobrir pq isso vai te desestabilizar e tirar o seu foco que é aprender e dar o melhor o melhor atendimento para os seus pacientes, e claro, conseguir a certificação. Absorva as críticas construtivas e siga em frente. Competente vc é, não chegou até aqui de graça, vão existir pessoas que vão duvidar da sua competência, mas fazer o que, vc sabe que as lutas que travou pra estar onde vc está, provam o contrário!
    Siga de cabeça erguida e adiante!
    Abraços!

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    1. obrigada! Vou encarar de frente, ja cheguei até aqui, o lance é so seguir em frente e nao desanimar!

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  2. Oi Gabi, sempre vejo seu blog, mas pouco comento. Entendo como você se deve sentir... eu sou português e estou a morar no Brasil... teve algumas vezes que me senti frustrado por questionarem a forma como eu escrevia textos na faculdade (e até mesmo no trabalho), "corrigindo" certas palavras e coisas que colocava como erradas, apenas porque não eram comuns ou usuais no Brasil... ou pessoas corrigindo o teu "jeito de falar" certas coisas...

    Ao inicio fiquei até chateado, pensei que era até um pouco de preconceito, mas isso acontece mais por dois motivos: 1. Desconhecimento ou falta de vocabulário. 2. O hábito de ouvir ou ver escrito determinada coisa de um determinado jeito e "achar estranho" ou "parecer errado" uma coisa diferente, que pode até estar certa também...

    Acredito que um francês de gema vá passar por situações desse tipo também. Não se preocupe, acredito que não é preconceito com você não.

    Outra coisa que você comenta é o nível de exigência... normalmente a gente exige mais de pessoas que gostamos ou que acreditamos serem bons profissionais.. pelo que leio do seu blog, acho que você deve ser uma excelente profissional... talvez por isso estejam exigindo mais de vc, porque você é uma boa profissional e eles querem ajudar você a ser melhor ainda e se superar.

    Força! Você consegue!

    Bonne chance!

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  3. Oi Gabi...
    sei q as vezes pode acontecer das situaçoes serem preconceito. em alguns casos pode até ser. Mas também pode ser que nao. Nesse seu caso, acho que a supervisora está te testando. Ou pode até ser que no fundo ela tenha algum tipo de preconceito que nem ela perceba, que faça com que fique mais de olho em você.
    Mas acho que isso é "normal". aposto que se for mesmo algum tipo de preconceito, as vezes até incosciente da parte dela, ela provavelmente nao fique tanto de olho nas quebecas porque ja tem isso "for grant"(desculpe, nao achei uma expressao que caracterize tao bem o que to querendo dizer e tive que usar anglicismo, que feio...).
    Mas acho que isso infelizmente faz parte da nossa vida de imigrante. Ja passei por uma situaçao semelhante e ja me dei conta que esse tipo de situaçao acontece muitas vezes, so que em geral nosso nivel de confianca ta numa boa e a gente nem nota. Mas quando pega a gente num dia ou fase mais estressada, ou mais vulnerável, a gente capta e se magoa. Depois que passa a gente consegue enxergar isso com mais frieza e aprender como se proteger numa próxima vez. Isso é a vida nao? Ir aprendendo e engrossando a casca... Sugiro que nesses momentos dificeis, tente respirar fundo e seguir em frente, rumo ao seu objetivo. Vc. ja provou para si mesmo que é capaz muitas vezes. Altos e baixos fazem parete da nossa estória, e no futuro a gente descobre que até os baixos foram enriquecedores. Você ja colecionou vitórias e essa sera apenas mais uma das muitas que virao.
    Bjos e se cuida! Se precisar, saiba que podes contar comigo.

    Erika

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    1. sim, agora estou de boa. Escrevi naquele mimento de raiva-mor, sabe?
      :-)

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  4. Poxa Gabi que coisa mais chata! Desejo fortemente que esses dias ruins tenham passado :) . E essa "correção" quecois hein? Deve dar uma raiva grandinha na hora... correções são muito bem-vindas, mas há maneiras de se colocar né...
    Outra coisa me espantou: 10 supervisores e médicos? Não entendi... não são as enfermeiras que fazem a sua supervisão?
    Dias melhores para você!

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    1. eu tenho 1 IPS supervisora e 10 médicos, faz parte do esquema de estagio. ;-)

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  5. Oi Gabi, estou presente sempre no blog, mas nunca comento... quando vc escreve sobre o que acontece com vc, doi em mim tb.. Ai ai... nem sei o que pensar! ... Estou muito confusa.. Eu me formei como tecnica de enf. em 1999 e enfermeira 2007 - Em 2008 me mudei para Dubai. Trabalho em hospital mas como assistente pessoal de um cirurgiao. Nunca trabalhei como enfermeira. Sempre que eu planejava trabalhar como tal, meu marido ficava desempregado e dai nao tinha como pular para um salario para menos da metada (aqui, como enfermeira) e dai fui ficando. Hoje, com frances intermediario, visto quase saindo e ja para enviar os formularios para a ordem, me pergunto se tenho chances.. eh como se eu tivesse que comecar td de novo.. tendo me formado ha tanto tempo e sem experiencia.. o que acha que a ordem podera decidir? Muito obrigada, Paula

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    1. Recomeçar é sempre um desafio enorme! A OIIQ pode te encaminhar pro AEC + estágio básico (6 meses) ou o completo (2 anos).

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